segunda-feira, 22 de junho de 2009

Intervenção de António Maria Coelho de Carvalho

FORUM PARA A CIDADANIA DOS TRAMAGALENSES
Associativismo, Cultura e Desporto
SUC 090620


Muito boas tardes
Como é da praxe, começo por agradecer o honroso convite para participar neste Forum.
Tenho andado afastado destas lides, mais por motivos familiares do que por desinteresse ou cansaço, mas senti que não devia recusar esta minha pequenina contribuição para um Tramagal melhor

Comecemos pelo ASSOCIATIVISMO
A conjugação de esforços que gerou o brilhantismo do Tramagal Intercultural entusiasmou-me e fez-me acreditar que era possível melhorar a qualidade de vida na nossa terra. Não estive intimamente ligado à organização de qualquer dos eventos, mas creio que os seus mentores poderão ajudar imenso a “evolução cultural” anunciada com este Forum, se nos informarem das razões que levaram à sua extinção. Creio que a experiência adquirida com os TIC poderá ser a melhor base para a correcção de erros então cometidos ou para a invenção de novas soluções para os problemas que surgiram e não foram a seu tempo resolvidos.
Li que está em gestação uma “plataforma associativa”. Embora desconheça os moldes preconizados para o seu funcionamento, receio que não venha a funcionar com a eficiência e a eficácia desejadas se não estiver formalmente ligada à Junta de Freguesia. Será no entanto preciso inventar um novo modelo de Junta de Freguesia, não dependente dos partidos políticos, o que, não sendo ainda fácil, já não é de todo impossível.
Ao nível das juntas de freguesia interessa mais o bom relacionamento, a dedicação e a disponibilidade dos seus membros do que a sua filiação partidária. Os partidos políticos têm sido uma espécie de clubes de futebol e têm separado emocionalmente as pessoas em vez de as unir na busca de soluções para os problemas da comunidade.( Se as Juntas de Freguesia são do mesmo partido da Câmara são beneficiadas, mas ficam politicamente impedidas de a criticar; se não são da mesma cor política, criticam-na, mas são esquecidas na repartição das benesses).
Na espécie de prontuário que a Comissão Coordenadora fez o favor de me enviar, há muitas e pertinentes interrogações sobre o associativismo tramagalense. Sugiro que, na medida do possível, algumas sejam aproveitadas em sessões de “brainstorming”, a efectuar na SAT e na SUC. O “brainstorming” foi inventado, há mais de 50 anos, por um americano, mas ainda é pouco conhecido e ainda menos praticado em Portugal. Tem como objectivo aproveitar a nossa criatividade para a recolha do maior número possível de respostas a problemas que se queiram resolver. A 4 ou 5 pessoas, sentadas à volta de uma mesa, é dada uma questão que se quer resolvida. Cada uma dessas pessoas diz, sobre o assunto, o que lhe vier à cabeça, mesmo que seja um disparate. Ninguém pode criticar o que for sendo dito. Registam-se as ideias expressas e passados 5 ou 6 minutos pára-se o exercício e entrega-se a lista das ideias a quem estiver encarregado de as examinar e eventualmente aproveitar. Com uns cafezinhos, ou umas mini’s, pode-se juntar o útil ao agradável.

Outra dica que me ocorreu. Diz-me a minha experiência de muitos anos e muitas frustrações, que uma das causas das falências dos movimentos sociais bem intencionados é a falta de jeito, aliada à falta de preparação, de quem orienta as discussões. Creio que seria muito útil a formalização de um pequeno curso sobre “condução de reuniões” para os candidatos às mesas de assembleias. Outro curso que seria extremamente útil seria sobre a “arte de falar em público”. Repare-se nos políticos bem falantes, que não precisam de ser cultos nem inteligentes para terem sucesso e, eventualmente chegarem a primeiro-ministro…
Num e noutro caso creio que o IEFP poderá dar uma ajuda.

Passemos à Cultura e ao Desporto.

Não vamos discutir os vários significados que pode ter a palavra cultura. Chega-nos o conceito de cultura como tudo o que é aprendido, inventado e partilhado pelos indivíduos de um determinado grupo e que confere uma identidade a esse grupo e a cada indivíduo dentro desse grupo.
Então o que é que devemos aprender para melhorarmos a nossa vida ? Por outras palavras, o que é que a Escola nos deve ensinar? Por certo cada cabeça cada sentença, mas não deverá ser difícil encontrar denominadores comuns. Bastaria um inquérito à escala nacional sobre as faltas de conhecimento que cada um de nós sentiu no seu dia a dia, para termos uma base honesta de uma verdadeira reforma curricular nas nossas escolas. A nível local, o “nosso” jornal Abarca poderia ser pioneiro neste inquérito e a UTIT encarregar-se ia de ministrar os ensinamentos mais relevantes. Nunca é tarde para aprender…
Como exemplo pessoal, posso dizer que, entre muitas outras coisas, me fez falta saber algumas normas do Código Civil, sobre obrigações e contratos, sobre propriedade de imóveis e das águas, sobre heranças e partilhas, sobre deveres conjugais… (é espantoso como quase toda a gente vive na ignorância das regras a que deve obedecer a sua convivência com os outros cidadãos ! Será truque dos advogados para terem mais clientes?).
Também me faz uma confusão dos diabos a nenhuma importância que, oficialmente, se dá à Filosofia, à Música e à Educação Física. Claro que, no que respeita à Filosofia, quanto mais broncos forem os eleitores mais descansados andarão os governantes, mas então se não os podemos corrigir para que é que nos serve esta espécie de democracia em que vivemos?
A Música é outra mal-amada disciplina. Aqui não encontro explicação. Não há povo nenhum, dos aborígenes da Austrália aos mais sofisticados europeus, passando pelos negros americanos, que não tenha as suas músicas, que não as cante ou que não dance ao som delas. É um dos índices mais fiáveis do desenvolvimento de uma nação a difusão da cultura musical. Em Portugal há mercado para milhões de espectadores mas não nenhum incentivo para praticantes. Talvez a situação mude quando se chegar à conclusão de que aprender música, para a cantar ou tocar num instrumento, é a melhor prevenção para as doenças mentais que tanto estão a afligir a humanidade. Talvez então a Música e os músicos passem a ser acarinhados. Pena tenho eu que essa outra revolução não chegue a tempo de eu ir para a grande viagem ao toque da Nova Banda da SAT.
Quanto à Educação Física e ao Desporto a situação é diferente. Tem havido muito investimento em instalações desportivas: pavilhões, piscinas, campos de futebol, pistas de atletismo… Mesmo localmente, excepção feita à vergonha do desprezo a que foi votada a pista, existem, como nunca, condições para que os nossos rapazes e raparigas se dediquem à prática desportiva em muito maior número do que na realidade acontece. O que está falhando? Eu por mim, reformado há muitos anos do TSU, não tenho resposta. Burocracia a mais na utilização das instalações? Efeito perverso das novas tecnologias, com o amolecimento dos garotos viciados nos jogos de computador? Consequência da propaganda desenfreada ao futebol espectáculo e aos ordenados fabulosos dos seus praticantes? Pouca predisposição dos atletas veteranos para se assumirem como dirigentes? Não sei. E tenho pena porque há 40 anos sonhei que Tramagal, poderia ser na actividade desportiva, um exemplo para todo o País.

Obrigado por me terem escutado e até qualquer dia.

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