segunda-feira, 22 de junho de 2009

Intervenção de Luís Grácio

Fórum para a Cidadania dos Tramagalenses
Sessão Temática - Associativismo, Cultura e Desporto
SUC 2009-06-20


Queria saudar a organização deste Fórum sobre a Cidadania dos Tramagalenses/Crucifixenses pois só pela ideia e o facto de ele se desenvolver através de sessões temáticas, de debate, é já um grande contributo para sermos mais fortes e mais próximos.
Queria também manifestar a minha satisfação pelo local onde se realiza esta sessão pois tenho pelo Crucifixo um especial carinho por ser a terra dos meus avós e da minha mãe.
Fui convidado a participar e aceitei dar o meu contributo neste Fórum por ter alguma experiência no movimento Associativo como dirigente e como colaborador e animador cultural.
Não me considero totalmente um cidadão ausente pelo facto de passar mais tempo do ano sem o convívio dos presentes e por essa razão, mais distante da discussão do associativismo local. Sinto-me ligado e interessado pelas Associações da minha terra.
Para intervir sobre as actividades culturais, tema que me foi proposto, tenho que forçosamente abordar a questão do Associativismo da nossa Freguesia.
As colectividades existentes na nossa terra constituem uma realidade da maior importância para o Associativismo na comunidade local e regional. Com provas dadas ao longo das várias gerações Tramagalenses, a produção artística, cultural, desportiva, recreativa, de melhoramento social, gerada ao longo dos tempos, o seu grau de satisfação e qualidade atingidos, faz-nos sentir orgulhosos da nossa terra mas ao mesmo tempo apreensivos e inquietos, o que originou, de algum modo, a realização deste Fórum.
Antes e depois do 25 de Abril 1974 sempre existiram associações de cultura, recreio e desporto na nossa Freguesia, que marcaram as várias épocas, mesmo sem a liberdade de expressão, e por essa razão não está em causa a sua existência e a quantidade. Poder-se-ia pôr em causa a qualidade do trabalho prestado por algumas e neste Fórum, ajudar a procurar caminhos e soluções para o seu melhoramento.
O 25 de Abril 74 abriu portas a uma fragmentação e diferenciação dos estilos e vidas culturais que deixaram de ser pautadas pelos cânones do antigo regime. E que, apesar da rotura com o passado, sobreviveram certas manifestações de cultura festiva e recreativa popular com são os casos de grupos Folclóricos, Bandas de música, ou as estruturas de formação alternativa e resistência ao regime ditatorial, com os Cineclubes e os Grupos de Teatro Independentes.
As Associações são hoje espaços de socialização cívica, política e cultural que contribuem para a dinamização da vida democrática sendo ao mesmo tempo um veículo fundamental da promoção da cidadania.
Mas apesar do "ar" dos tempos da sociedade ser a tendência dos cidadãos se tornarem mais individualistas e alheios da vida colectiva, há sempre alguém que resiste e se disponibiliza para ser dirigente ou colaborador de uma colectividade.
Aqueles que têm sensibilidade para o associativismo devem ser os dirigentes e dirigir.
Eu creio que o modo, as atitudes, as capacidades e o desempenho dos membros das Direcções de Colectividades influenciam o bom ou o mau funcionamento de uma organização. O conjunto de virtudes, valores cívicos nos indivíduos, o respeito pelo bem público, os hábitos de cooperação, o respeito pelo bem público, os hábitos de cooperação, o respeito pela lei e pelos outros, a predisposição para participar na vida pública, são sem sombra de dúvidas, factores fundamentais para o bom funcionamento das colectividades e para o êxito dos seu objectivos. Não deve ser dirigente quem gosta e quer ser, mas sim quem tem de facto conhecimento e vocação.
Deste modo defendo que há necessidade e interesse de processos de formação para dirigentes e colaboradores, especialmente jovens, nomeadamente nas áreas do Teatro, Música e outras.
O teatro, o cinema e a música foram sempre as áreas de que mais gostei e dediquei grande parte do meu tempo de lazer. Talvez por ser filho de um homem, Joaquim Alves Grácio, que foi no seu tempo, em conjunto com outros, um destacado amador de teatro na nossa terra e isso, mesmo sem haver muitos registos, me possa ter influenciado de certa maneira.
E ao lembrar estes Tramagalenses e essa época, verifico que, se houvesse quem escrevesse e registasse a história local, a importância que isso teria, sem ter de ficar ancorados ao passado, para agora podermos comparar as nossas dificuldades com as dos nossos antepassados.
Fazer a história local dos usos e costumes, das nossas tradições, daquilo que foi realizado pelo movimento associativo local com muito carinho, esforço e dedicação, é sem dúvida criar um património cultural e contribuir para a caracterização de uma Freguesia que se deseja com uma comunidade de significativa coesão e forte identidade
E essa história Local serviria também para influenciar as políticas culturais autárquicas que pecam por ausência de estratégias e realizações de eventos onde se utiliza os recursos públicos muitas vezes, sem público.
Para se ser mais forte e mais próximo teremos fundamentalmente de saber quebrar o aparente isolamento em que muitas vezes caímos, ou seja evitar que a comunidade se vire para dentro de si própria e se projecte para fora, regional, nacional ou mesmo internacional.
Dar visibilidade às coisas que vamos fazendo na nossa Freguesia, é uma medida de esforço para a dinamização das comunidades (ausentes e presentes) e do nosso tecido associativo, que gosta de saber das coisas da sua terra.
A utilização dos meios de Comunicação locais e nacionais, são importantes nesta divulgação e informação sobre as actividades das associações. As Rádios Locais poderiam criar um programa que habituasse a comunidade a um discurso sobre as Associações e a Cultura com tem para o Desporto.
Fui actor e encenador no TTL e SAT. Foi na SAT, nas Direcções de Rogério Lemos, Carlos Pereira e Carlos Silva, que aprendi que não basta a capacidade, o esforço e dedicação dos dirigentes e colaboradores para se realizar eventos com impacto e dar continuidade a projectos culturais.
È necessário os apoios públicos e autárquicos.
E constatei na altura, que os subsídios foram insuficientes, sabendo-se que a oferta cultural e recreativa foi adequada e suficiente para a região, para o nosso Distrito e até para o nosso País.
Havia planeamento, estratégia e projectos culturais definidos.
É pena que a simples mudança de uma Direcção numa colectividade, acabasse com todos os projecto iniciados e dinamizados por colaboradores jovens e adultos, interessados na procura, na formação e no alargamento de públicos, como foi o caso da realização de Cafés-semcerto.
Mas outras Direcções hão-de vir com novas ideias e novos projectos e procurar dar continuidade ao trabalho que foi realizado.
O Homem, por natureza, é um ser sociável. Não pode, portanto, isolar-se e viver o seu dia a dia confinado ao emprego e à sua casa.
Terá forçosamente que procurar cultura, recreio música, espectáculos, lazer, desporto,etc, e isso as Associações saberão preparar a oferta de acordo com a procura e encontrar soluções para os problemas que se colocam face aos novos tempos.
Penso que as interrogações e algumas propostas que deixo a este Fórum fazem sentido e espero ter contribuído para sermos mais fortes, mais próximos e mais unidos.

Crucifixo, 20/06/2009 Luis Manuel Menaia Grácio

3 comentários:

  1. É pá, PREC à vista????

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  2. Pois é! Cuidado que eles já andam aí!!!

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  3. Inconsequente, veio-me à memória alguns versos soltos do Manuel Alegre:

    "...
    E o vento não me diz nada
    ninguém diz nada de novo.
    Vi minha pátria pregada
    nos braços em cruz do povo.

    Vi minha pátria na margem
    dos rios que vão pró mar
    como quem ama a viagem
    mas tem sempre de ficar.

    E o vento não me diz nada
    só o silêncio persiste.
    Vi minha pátria parada
    à beira de um rio triste.

    Quatro folhas tem o trevo
    liberdade quatro sílabas.
    Não sabem ler é verdade
    aqueles pra quem eu escrevo.

    Mas há sempre uma candeia
    dentro da própria desgraça
    há sempre alguém que semeia
    canções no vento que passa.

    Mesmo na noite mais triste
    em tempo de servidão
    há sempre alguém que resiste
    há sempre alguém que diz não."

    RL

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